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GRAMOFONE

às voltas com os discos às voltas.

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às voltas com os discos às voltas.

[ENTREVISTA] Trezentos e sessenta e cinco everydays: a preenchida agenda de Rui Gaio.

Figura e voz veterana do meio mais alternativo da música nacional, Rui Gaio voltou a embarcar em nova epopeia audiovisual para preencher os seus dias. Todos os seus dias, para sermos mais rigorosos. Mesmo estando a preparar nova obra com os seus Peltzer, Rui Gaio encontrou tempo e inspiração para dar corpo a ideias que já encubadas há uns tempos, quer na sua imaginação, quer nos discos rígidos dos seus aparelhos. Pretende, com esta matéria-prima, ir lançando de forma frequente novas composições audiovisuais, devidamente colocados no seu canal online. Arranjámos um furo na preenchida agenda do músico para obter mais detalhes acerca desta verdadeira banda-sonora do seu quotidiano.

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GRAMOFONE - Este projecto já existia na tua cabeça antes deste período de confinamento pandémico, ou foi somente propulsionado por essa mesma fase que ainda atravessamos?

RUI GAIO - Foi antes da pandemia. Começou a sério em Outubro passado, com o “Luzes Amarelas e Verdes”, que corresponde ao everyday #6. Tenho centenas de ideias inacabadas no computador e no telemóvel. Embora a grande maioria sejam bastantes pueris, quando revisito algumas delas descubro-lhes uma certa maturidade. Ter essas ideias aprisionadas nos meus bits and bytes é uma violência. Algumas estão presas há muitos anos, tenho mesmo que as libertar enquanto ainda piso este planeta, senão ninguém o fará por mim e elas falecem comigo nesse futuro que espero que seja longínquo. A pandemia acabou até por abrandar este projecto, fiquei muito confuso com isto tudo e não me sentia solto o suficiente para produzir o que quer que fosse. Agora já voltei ao normal, e espero continuar a lançar everydays a um ritmo decente. Não será todos os dias como queria, mas será frequentemente.

GRAMOFONE - Sendo a parte visual igualmente importante nestes Everydays, como é gizada essa parte? Inspiras as imagens no som ou vice-versa também?

RUI GAIO - Estando este projecto radicado num canal de Youtube, pensar a componente visual é inevitável. Já há muito que tinha um certo ímpeto de revelar músicas instantaneamente no Youtube, mas no momento em que experimentei misturar o piano, os sintetizadores e a voz com as imagens em movimento percebi que era aquilo que queria fazer. Parece magia quando as notas e as imagens se misturam, sinto sempre uma certa palpitação, um rush. Às vezes inspiro-me nas imagens e toco, mas quase sempre começo pela música, depois escolho ou recolho imagens a sentir a música e depois volto a tocar/produzir. E depois ainda volto a filmar/recolher. É um processo lúdico, entro assim numa espécie de corrente.

GRAMOFONE - Contaste com algumas colaborações nas composições já disponibilizadas, quer musicais quer visuais. Tens mais algumas pensadas e/ou acordadas para números futuros?

RUI GAIO - Sim, felizmente muita gente talentosa tem aceite os meus convites para colaborar. A Bia Maria com a sua portugalidade toda na voz salvou-me o “Eu Por Ti”, que já andava há tantos anos a debater-se na gaiola dos zeros e dos uns. Gostava de voltar a colaborar com ela e também com outros músicos. Todos os instrumentos musicais me fascinam, cada um deles com o seu timbre, a sua essência. Os meus sintetizadores analógicos, velhinhos, oferecem-me timbres electrónicos únicos e fascinantes, mas quero diversificar os timbres orgânicos para além do piano: Violino, violoncelo, flauta baixo, flauta transversal. Vai ser divertido... espero.

GRAMOFONE - Lemos algures que pretendes disponibilizar o trabalho em disco. Já tens ideia em que moldes ou ainda está a ser magicado?

RUI GAIO - Há dois tipos de discos que gostaria de fazer. As compilações de «everydays» (Vol I, II, III, etc.) estão prontas a sair e destinam-se essencialmente para quem quer alternativas ao Youtube para os ouvir como o Spotify e afins. Depois terei os discos mais a sério, com a colaboração de produtor, engenheiro de som, ilustrador, designer gráfico, fábrica de suporte físico, distribuição digital e física, promoção, publishing. Confesso que só de pensar nisso já fico ansioso, é um trabalho colossal pelo qual já passei, nomeadamente com Peltzer (estamos a trabalhar disco novo). No final, o resultado é uma obra que pode ser contemplada na sua plenitude. Espero conseguir um dia completar tão exigente tarefa, está planeado fazê-lo. Se não conseguir no entretanto... teremos sempre everydays.

GRAMOFONE - E em termos de apresentações ao vivo, gostarias de exibir estes trabalhos em formato de concerto, quando exista enquadramento para tal?

RUI GAIO - Sim, estou neste momento a preencher algumas vagas ainda disponíveis para o final de 2020 e 2021. Serão concertos audiovisuais intimistas, pessoais, emocionais e estou a contar conseguir fazer levitar algumas pessoas.